
Em meio a um cenário em que os relacionamentos se transformam com a mesma velocidade dos algoritmos, um termo ganhou destaque nas buscas do Google: situationship. Mas afinal, o que está por trás desse novo modelo de vínculo afetivo que mistura romance, amizade e muita ambiguidade?
O que caracteriza uma situationship?
Uma situationship é, essencialmente, um relacionamento indefinido. Não é exatamente uma amizade, nem um namoro — e dificilmente se encaixa em um rótulo claro. As pessoas envolvidas vivem momentos de intimidade e conexão emocional (às vezes até sexual), mas sem uma conversa formal sobre compromisso ou expectativas mútuas.
É o famoso “estamos ficando”, mas com duração indefinida e sem saber se um dia aquilo vai virar algo mais sério — ou simplesmente acabar.
Por que se tornou tão comum entre millennials e geração Z?
Esse tipo de relação cresceu especialmente entre jovens adultos por alguns motivos culturais e comportamentais:
- Medo de compromisso (ou de se machucar);
- Valorização da liberdade individual;
- Cultura do “deixa rolar” e do imediatismo;
- Influência dos apps de relacionamento, que oferecem infinitas possibilidades e dificultam a construção de vínculos profundos;
- Insegurança emocional, muitas vezes ligada ao medo de rejeição.
Como explica a psicóloga clínica Renata Ribeiro, especialista em relacionamentos contemporâneos:
“A situationship muitas vezes surge quando há conexão, mas nenhuma das partes se sente segura para assumir uma vulnerabilidade emocional ou comunicar o que realmente deseja.”
Impactos emocionais: entre a esperança e a frustração
Ainda que pareça confortável no início, esse modelo pode trazer consequências importantes:
- Ansiedade constante: por não saber onde se está pisando.
- Autoestima abalada: quando um dos envolvidos sente que não é o suficiente para “ser escolhido”.
- Dificuldade de se abrir a novas conexões: por estar emocionalmente preso a algo indefinido.
- Sensação de não pertencimento: como se estivesse sempre “quase” em um relacionamento.
Checklist: Você está em uma situationship?
Veja alguns sinais que podem indicar esse tipo de vínculo:
- Vocês passam tempo juntos com frequência, mas evitam falar sobre o que “são”.
- Não há planos futuros definidos como casal.
- Um ou ambos evitam demonstrar afeto em público.
- Você sente que está sempre pisando em ovos para não “assustar” o outro.
- Existe intimidade, mas também uma constante sensação de insegurança.
- Você não sabe se está solteiro(a) ou comprometido(a).
Se você respondeu “sim” para 3 ou mais itens, é bem provável que esteja vivendo uma situationship.
O que dizem os especialistas?
Para o terapeuta de casais Carlos Medeiros, esse modelo pode funcionar se ambas as partes estiverem alinhadas emocionalmente e conscientes da ausência de compromisso.
“O problema começa quando um quer mais e o outro apenas quer manter o conforto da indefinição. Aí surgem as frustrações, a ansiedade e até um ciclo de autossabotagem afetiva.”
Como sair dessa “zona cinzenta”?
Se você está em uma situationship e percebe que deseja algo mais claro, aqui vão algumas sugestões:
- Reconheça o que você sente e o que deseja.
- Tenha uma conversa honesta e objetiva com a outra pessoa — sem cobranças, mas com clareza.
- Observe a reação do outro: evasão e justificativas constantes são sinais claros de que talvez você e essa pessoa não estejam na mesma sintonia.
- Respeite seus limites emocionais. Ficar onde você não se sente seguro(a) pode custar caro para sua saúde mental.
- Busque apoio terapêutico, se necessário. Um olhar profissional pode te ajudar a identificar padrões repetitivos e resgatar sua autoestima afetiva.
A situationship pode parecer uma solução leve e sem pressões, mas quando não existe alinhamento emocional entre as partes, ela se transforma em um terreno perigoso para o coração. Saber o que você quer — e ter coragem para comunicar isso — é o primeiro passo para se tirar da zona cinzenta e construir relações mais conscientes, recíprocas e verdadeiras.
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